2 nações, 2 rios e 1 estrada de ferro

Voltar à Guajará-Mirim, no estado de Rondônia é literalmente como voltar no tempo. Ali estão minhas raízes, parte da minha história e de meus valores. Dessa vez minha ida àquele lugar foi recheada por novos sentimentos e regada por novos aprendizados.

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Maquinário da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Viagem de volta de Guajará-Mirim-RO – Encontro com familiares em Abunã-RO, julho de 2018.

Complementando esse momento, ao ler o livro de Ferreira (1), aprendo que por quase um século havia um preço a ser pago na passagem das cachoeiras do Madeira. Esse tributo foi entregue pelos exploradores, engenheiros, cientistas, negociantes e viajantes.

Além disso, a Bolívia precisava de acesso ao Oceano Atlântico e uma das formas para atender esta demanda seria pelo Amazonas, por intermédio dos rios rondonienses – Madeira e Mamoré. Como esses rios apresentam trechos intrafegáveis, surgiu então a necessidade da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

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Locomotivas. Bodas de 50 anos do Sr. Francisco e Sra. Terezinha, meus pais – Porto Velho-RO, novembro de 2017.

Outros pontos que muito me chamaram atenção na implantação dessa obra de infraestrutura foram:

  • A questão financeira que envolvia – a Inglaterra precisou fazer empréstimo para ter recursos para desenvolvê-la;
  • Os acordos com valores que a nossa nação não tinha recursos para pagar, mas que depositava sua confiança para levantar o valor necessário com a cobrança de juros;
  • A quantidade de engenheiros envolvidos e
  • A descrição de um conjunto de dificuldades ao longo da execução da mesma, listadas por Ferreira.
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Meu filho Lucas, em trecho de corredeira no Rio Mamoré – Guajará-Mirim-RO. Julho de 2017.

“Foi da necessidade de vencer trechos inviáveis para a navegação e da tentativa de resolver o caso do Acre que nasceu a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré”.

M. S. MARTINS

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Eu e minha irmã Ana Lúcia, em trecho de corredeira do rio Mamoré. Guajará-Mirim-RO. Julho de 2018.

A execução da referida estrada se iniciou com os ingleses, com a montagem do canteiro de obras em julho de 1872, sendo alvo de quebra de contrato em julho de 1873 – por conta das dificuldades encontradas ao longo do caminho.

Em fevereiro de 1878 a obra foi retomada por uma empresa norte-americana, que em agosto de 1879 retirou-se do lugar.

Em 17 de novembro de 1903, com a assinatura do Tratado de Petrópolis, o Brasil assume a responsabilidade pela construção da estrada de ferro em quatro anos. A obra foi reiniciada em junho de 1907 e em 30 de abril de 1912 teve seu último dormente assentado em Guajará-Mirim. A inauguração aconteceu no dia 1º de agosto de 1912.

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Peça de locomotiva. Viagem de volta de Guajará-Mirim-RO – Abunã-RO, julho de 2018.

A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré tem ligação direta com minhas raízes. Minha infância se deu nas proximidades desses trilhos, que até hoje são ícones para mim. Me alegro em poder revê-los, ainda que estejam com um amigo que já cumpriu a maior parte de sua jornada nesta terra e por isso me recebe quietinho em seu canto.

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Trilhos da EFMM. Viagem de férias em Guajará-Mirim-RO, julho de 2017.

E você, o que pode listar com carinho como elemento de sua terra natal?

Guajará-Mirense Ana Cunha

 

(1) FERREIRA, M. R. A ferrovia do diabo. Porto Velho, Melhoramentos, 1987.

(2) MARTINS, M. S. A Estrada de Ferro Madeira Mamoré como marco da “civilização” em Porto Velho: Perspectivas de uma História do/no Tempo Presente. Natal, 2013.

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